Válvera: o peso do underground brasileiro em ascensão no cenário global
Com quase uma década de trajetória, a banda paulistana projeta um 2025 repleto de novidades e conquistas, reafirmando sua relevância no heavy/thrash metal
Acostumado a figurar entre os grandes nomes do metal underground nacional, o Válvera inicia um novo ciclo com energia renovada e a promessa de um ano marcante. Com a preparação para sua terceira turnê europeia, o lançamento do aguardado álbum Unleashed Fury e a celebração dos 10 anos de Cidade em Caos, o quarteto paulistano mostra que a força e a criatividade continuam sendo seu combustível.

A seguir, confira uma entrevista exclusiva com a banda, abordando os novos projetos, desafios e o impacto de suas composições no cenário musical.
Válvera: representantes do underground brasileiro mostrando que tem poder e vigor para ressoarem no mainstream
‘Prestes a completarem 10 anos de seu debut e mais uma tour européia para a conta, os paulistanos estão prontos para encarar um novo ano repleto de conquistas e resultados positivos’
Acostumados a figurar entre os nomes mais relevantes do nosso cenário heavy/thrash, o quarteto está animado e prometendo um 2025 recheado de novidades, sendo pelo lado comemorativo ou também por mais um capítulo em sua história que cada vez mais demonstra qualidade e perseverança.
Dentro de uma temática atual e direta, a banda chega com o pé na porta sem pensar duas vezes, mostrando que um novo ciclo está começando e o seu interior continua intacto.
Abaixo, você pode conferir um bate-papo bem detalhado sobre o momento atual da babda, bem como o feedback geral e o que isso representa para os seus próximos passos.
01. Recentemente vocês lançaram “Reckoning Has Begun”, um single bem enérgico e que contém características famosas da banda. Falando sobre o conceito que carregam nela, vocês a descrevem como “um hino de superação”… então gostaria de saber mais detalhes sobre esse aspecto, e o quanto ela pode representar para seus fãs?
Rodrigo Torres: Eu acredito que a Reckoning seja a nossa música mais pesada e moderna em termos de instrumental e na parte da letra acredito que eu e o Glauber conseguimos atingir um novo nível como escritores, pela primeira vez estamos conseguindo falar sobre sentimentos, expressar a nossa fúria e as nossas dores em formas de música, o que gera uma conexão instantânea com o ouvinte.
Eu vejo um amadurecimento em conseguirmos expressar essa raiva na letra da nossa nova música, todos nós humanos temos que lidar com pessoas falsas e que tentam atrapalhar o nosso desenvolvimento e esse som é sobre isso, um aviso que ninguem vai atrapalhar a gente a atingir os nossos objetivos, após tempos muito difíceis a Reckoning Has Begun, nosso primeiro single, vem como um prelúdio afirmar ao mundo que o Válvera está de volta mais forte do que nunca e que a hora do acerto de contas chegou.
02. E já que abordamos o novo single, vocês irão lançar um clipe já no início de janeiro, certo? O que podem nos adiantar sobre isso e o quanto estiveram envolvidos na parte visual?
Leandro Peixoto: O clipe é um compilado dos momentos mais insanos do nosso ano, desde a turnê europeia em dezembro de 2023 até agora.
Nós quatro nos reunimos para selecionar as melhores filmagens da turnê europeia, do nosso show de abertura para o Destruction, entre outros eventos do ano, e o Glauber e o Rodrigo fizeram a edição em algumas semanas. Então o que podemos adiantar é que os nossos fãs verão quatro loucos tendo o tempo da vida deles na estrada, tudo filmado e editado por nós mesmos, feito com muita malvadeza e amor.
03. Vocês irão para a sua terceira tour europeia no mês de Abril, o que reforça ainda mais a qualidade da banda em nosso cenário. Pretendem trazer muitas novidades com esses novos shows? De repente uma produção de palco mais ousada ou algo do tipo?
Gabriel Prado: De início, explorar o máximo possível as adições do álbum novo no nosso setlist, entender a resposta do público às músicas novas, mas principalmente criar um show onde o público sinta não só a vontade, mas a necessidade de abrir um moshpit. [ E também temos os 10 anos de Cidade Em Caos, que em algum momento terá shows comemorativos.]
Planejamos também trabalhar a estrutura de palco, algo que fique mais atrativo visualmente, de uma forma que combine esteticamente com cada álbum, remetendo principalmente às cores de cada um.
04. E 2025 parece ser o ano em que a banda não terá descanso pois existe uma expectativa muito grande acerca do “Bangers Open Air” que terá sua primeira edição em Maio e vocês farão parte desse line-up. Como surgiu a oportunidade, quais as suas impressões sobre o evento e, pretendem fazer algo especial durante essa apresentação?
Gabriel Prado: A oportunidade de tocar no Bangers veio por intermédio da nossa produtora, a Venus Concerts, que são velhos conhecidos nossos. E a expectativa não podia ser maior, já que vamos sair da turnê Europeia quase que direto pro Bangers, chegando aquecidos e prontos pra botar fogo em tudo, mostrando tudo que foi feito e conquistado nessa tour europeia.
05. A cada lançamento da banda eu consigo facilmente perceber a evolução imposta e o quanto isso impacta na música de forma geral, algo que podemos ver de “Back To Hell” (2017) para o aclamado “Cycle Of Disaster” (2020). Tendo em vista que a banda amadureceu bastante, o que podemos esperar do lançamento de “Unleashed Fury”?
Rodrigo Torres: Eu acredito que essa seja a maior evolução do Válvera de um lançamento para o outro e isso é fruto de todas as tours que temos feito. Na minha opinião nesse momento temos o line up mais sólido, onde cada um sabe a sua função dentro da banda e as coisas tem corrido em harmonia e isso se reflete nas músicas.
O nosso fã pode esperar do “Unleashed Fury” a melhor versão do Válvera, como em todos os álbuns nós criamos um conceito e temos diferentes momentos dentro dessa criação, não vão faltar as famosas pedradas do Válvera e teremos também algumas tracks com mais harmonia, momentos viscerais e insanos com gultural, pedal duplo, uma linha de baixo sinistra e fritação nas guitarras e em contraste vocais limpos do Glauber com uma qualidade absurda.
O Unleashed Fury é um álbum emocionante de se ouvir e tenho certeza que o nosso fã e o fã de música pesada em geral vai ter uma experiência diferenciada na audição desse novo álbum.
06. Ainda sobre o novo álbum, gostaria que cada um de vocês relatassem o que foi mais difícil e o que mais deu satisfação durante as novas composições… e aproveitando o gancho, é possível nos contar algum spoiler sobre afinação, vocais, criação de riffs, se os fãs podem esperar um bom motivo para “quebrarem o pescoço”, por exemplo?
Rodrigo Torres: Apesar de eu ter tido uma L.E.R. no tendão da mão direita durante a sessão de criação e execução dos solos, para mim a parte mais difícil desse álbum foi criar a concepção por trás das músicas, ao meu ver esse é o momento mais decisivo durante a criação, após isso é só diversão, pois já sabemos qual o sistema que usamos para trabalhar nos sons. O que me dá mais satisfação durante as composições é o momento em que após criação de uma música nos pegamos desapercebidamente cantarolando a melodia de um refrão, nesse momento tenho a certeza de que fizemos um bom trabalho.
Leandro Peixoto: O mais difícil foi criar grooves de diferentes intensidades sem perder o peso; e o mais satisfatório foi justamente unir essas partes e ver o resultado final. A minha ideia como baterista foi criar o inferno na terra, e foi exatamente isso que a junção destes vários grooves proporcionou na música.
Gabriel Prado: Pra mim, foi o riff principal da Reckoning Has Begun, não era a mais difícil em técnica, mas pra soar coeso foi tenso; mas toda vez que eu escuto dá uma satisfação absurda. E além disso, não era nem dificuldade técnica que pesava tanto pra mim, mas a responsabilidade de mostrar um trabalho digno pro meu 1° álbum com o Válvera.
Muito do processo de criação foi o costumeiro: Glauber e Rodrigo trazem os riffs, adicionamos nossas ideias em cima da estrutura, e testamos pra ver o que fica e o que sai. Descemos a afinação ainda mais pra Bb standard, e foi consistente em todas as músicas, diferente do Cycle Of Disaster, que teve 2 afinações diferentes, Eb standard e B standard.
E motivo pra abrir moshpit não vai faltar, inclusive como momentos pra cantar junto.
Glauber Barreto: Em janeiro, durante as gravações de vocal do novo álbum, eu perdi minha mãe. Foi inesperado, um infarto fulminante, e eu confesso que não consegui compor e cantar. Precisei ir para Valentim Gentil – SP, onde fiquei 2 meses resolvendo as burocracias. Acabei atrasando todo o processo de gravação, mas tudo aos poucos se acerta, a dor passa, o luto vai e a gente segue, precisa seguir.
Durante meu luto, eu escrevi uma letra sobre todo esse período difícil. A música se chama “Eclipse” e estará no próximo álbum, “Unleashed Fury”.
Mas tem a parte boa também: a banda vive uma ótima nova fase. Estamos mais focados no metal moderno, e esse novo material definitivamente não tem nada de heavy tradicional. Todas as afinações estão em “Bb Standard”, os riffs estão agressivos, ótimos solos de guitarra do Rodrigo, o cara está Guitar Hero total, bateria e baixo do Leandro e do Gabes trabalhando de forma insana, e eu estou usando bem mais drive nos vocais, mais peso, mais melodia em algumas partes e muitos berros (risos).
Este é o primeiro álbum que gravamos com essa formação, e estamos empolgados com a sinergia que rolou. Todas as letras abordam temas pessoais: desabafos, conflitos, luto e superações. Esperamos que nossa mensagem chegue até todos.
07. A parte gráfica é uma das mais interessantes dentro do metal pois muitos fãs do gênero adoram admirar um bom conceito, não é mesmo? Assim como acontece com a arte escolhida para seu novo single, o álbum também transmitirá muitas mensagens visuais? O que podem falar neste aspecto?
Leandro Peixoto: A arte gráfica é uma das partes essenciais da identidade do Válvera. O Glauber é designer e fez por conta própria a capa do single Reckoning Has Begun. A arte, que conta com caveiras e cobras, que representa a retribuição, o karma e a consequência de uma impostura. Sobre a arte do álbum, após trabalharmos anos com o incrível Marcelo Vasco, que trabalha com bandas como Slayer e Testament, contamos com o trabalho impecável do Marcos Fides, que trouxe à vida a essência do nome do álbum Unleashed Fury: um leão se livrando de correntes. Portanto, estamos muito satisfeitos com o trabalho visual, e temos certeza que irá conectar com os fãs.
08. 2025 também marca os 10 anos do lançamento de seu debut, “Cidade em Caos”, que até então é o único registro da banda em português. Como vocês enxergam esse álbum após a primeira década comemorada e o que colheram de experiência? E por fim, teremos algo especial para a data?
Glauber Barreto: Um designer e um advogado se juntando para fazer música sem pretensão. Isso era o Cidade em Caos. A gente só queria curtir, nem tínhamos um direcionamento de estilo ou temas; era só diversão. O que vinha na cabeça, a gente fazia, sem se importar com a mistura.
Sem esse álbum, não teríamos feito os primeiros shows, não teríamos seguido juntos nesse caminho, e nada do que vivemos hoje seria possível. Nos mudamos para São Paulo para gravar e tocar, pois, no interior, as oportunidades eram bem menores. Com isso, conhecemos pessoas como o Pompeu, do Korzus, que nos ajudou, guiou e explicou como tudo funcionava, não só no estúdio, mas também na música.
Também levamos porrada, tivemos portas batendo na cara e aprendemos ali qual seria nosso caminho. Fomos nos moldando, aperfeiçoando e evoluindo.
Eu olho para esse álbum com muito carinho, pois ele foi o maior ‘professor’ da nossa carreira. Músicas como Extinção e a própria Cidade em Caos acabaram nos dando um rumo para o álbum seguinte, Back to Hell.
Com certeza, faremos uma celebração. Quem sabe regravar uma música desse álbum com uma cara mais atual, ou talvez uma turnê de comemoração e itens comemorativos para venda. Esses 10 anos de Cidade em Caos merecem algo especial.
09. Atualmente vocês possuem uma formação estabilizada, agenda quase sempre lotada de shows, oportunidades internacionais, aberturas de shows para grandes nomes que visitam o Brasil… se pensarmos no feedback de forma geral, redes sociais, merch, estão satisfeitos com a progressão que tiveram desde sua ascenção? O que vocês mais almejam a partir daqui com essas conquistas já alcançadas?
Glauber Barreto: O Válvera é uma banda que saiu do interior de São Paulo, sem padrinhos, sem contatos. Fomos, aos poucos, e com muita luta e trabalho, conquistando espaço no cenário. Se eu pudesse voltar no tempo e falar para o Glauber de 2010 o tanto de coisas que ele viveria com a banda, acho que ele não iria acreditar. Cada um tem sua história. Nós estamos fazendo a nossa, sempre da melhor forma que podemos, e acredito que as pessoas enxergam algo a mais quando é de verdade. Tem muita gente no meio “encurtando caminho”, gastando rios de dinheiro, mas isso nem sempre cria conexões. Muitas bandas acabaram e nós continuamos aqui, crescendo.
Tenho muito orgulho da nossa história, de termos feito mais de 300 shows, na garra e na coragem. Chegamos a dirigir mais de 15 horas para chegar e ir tocar em um festival no Sul. A gente já tocou na rua de comunidades, já tocamos na Av. Paulista, abrimos o show de comemoração dos 40 anos do Destruction no Carioca Club lotado, fizemos tour ao lado dos americanos do Prong pela América Latina, fomos recebidos por fãs no aeroporto do Chile, tocamos para mais de 10 mil pessoas em um Rock Na Praça, em frente à Galeria do Rock, vencemos o New Rock Bands durante a pandemia, disputando com 711 bandas e assim tocamos no CCSP. Vamos tocar no Bangers Open Air agora em maio de 2025, vamos para a nossa terceira turnê europeia e lançaremos o quarto álbum de estúdio, “Unleashed Fury”.
O sucesso é algo relativo, e eu me sinto extremamente vitorioso, saindo de onde saí e chegando até aqui. Sou um cara realizado com a minha banda, mas com sede de muito mais, porque sei que a gente pode ir muito mais longe, e estamos trilhando para isso.
10. Muito obrigado pelo tempo disponibilizado, espero poder vê-los em breve nos palcos. Gostariam de deixar um recado final?
Válvera: Queremos agradecer de coração aos nossos fãs por nos fortalecerem sempre: indo aos shows, ouvindo nossa música e adquirindo nosso merchandising. Vocês fazem a diferença! A cada dia, novas pessoas descobrem nosso som e se juntam à nossa família, mostrando que estamos conquistando novos fãs ao redor do mundo.
Seguimos com sangue nos olhos, dedicando paixão, energia e toda nossa vontade para entregar o melhor a vocês, seja nos shows ou nas músicas.
2025 será um ano explosivo! Preparem-se para muitos shows, clipes incríveis, grandes novidades e o melhor álbum da nossa carreira: Unleashed Fury!
Não percam nada!!!
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Entrevista redigida por Vinny Almeida
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